quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Insanidade pura.

- Atitude, Guilherme. Atitude! - Eu pensava em voz alta. - Bota a tua roupa e sai desse quarto que tanto te aflige!

Chegou a hora. Pouco me importava se a luz me cegaria ou se o sol queimaria a essência do que eu escrevera aqui. Era metafórico demais, escondido demais. Chegara a hora de mostrar o interior na camada mais espessa.
Por anos eu me escondi no que eu mais temia, no escuro. Algo dentro de mim implorava pelo clarão do meio-dia, mas aqueles gritos ecoavam como o relógio que tic-taqueava no centro daquele quarto quando chegava a meia-noite. Os opostos disputavam o meu corpo, as duas extremidades se distanciavam e levavam cada uma, um pedaço de mim.
Eu poderia dizer que a realidade em que eu vivia era absurdamente perfeita aos olhos de quem não a conhecia. Eu poderia beber duas doses de desamor com uma pitada de vodca. Talvez menos sanidade me fizesse abrir aquela janela e pular pra fora do meu mundo.
Voar pro mundo dela e roubar ele só pra mim.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Astenia.

Confesso que não consegui. Talvez aquilo pesasse mais do que devia, mais do que eu mesmo. Eu não poderia carregar em meus braços todas aquelas toneladas de culpa por ter deixado tudo pra trás. Por ter deixado tudo passar. Eu não era forte o suficiente, eu não conseguiria me livrar daquelas horríveis cenas que atormentavam minhas ébrias madrugadas. Talvez eu não tivesse visto, de fato. Talvez fosse só mais um pesadelo qualquer, coisa rápida, que passaria com um copo de água e um cobertor mais quente.

Os poucos raios de luz que passavam pelas brechas daquela janela ao amanhecer me fizeram abrir um leve sorriso. Eu sorria, mas não por saber que um raio de felicidade entrava por ali - eu acho - mas sim, por saber que o mundo dela ainda vivia em paz. Eu sei que eu deveria desejar à ela nada além de dor, lágrimas, infelicidade e todas aquelas coisas que uma vítima oprimida do amor deseja a quem feriu o seu orgulho, mas eu não conseguia. Era como se eu tentasse por um momento odiar a melhor parte de mim. Ou quem sabe a última que restava.
Eu procurava de todas as maneiras arrancar aquela "parte podre" de mim, mas talvez fosse a parcela de beleza que eu tinha.
A parcela de vida que restava à minha existência.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Prólogo.

Era tudo tão monótono, mas tão inquieto ao mesmo tempo.
A porta estava trancada e as janelas fechadas. Por elas não passavam nada, além dos clamores do vento gelado que as surravam pelo lado de lá. Eu procurava em cada detalhe daquela casa algo que me fizesse crer que toda aquela irreparabilidade do meu passado fosse sumir, assim, evaporar. Se bem que naquelas circunstâncias, crer em um futuro melhor poderia concretizar o meu fim. Concretizar o fim de tudo aquilo pelo que sempre zelei, o fim dos meus princípios e das minhas memórias. Eu não sabia como agir - e esse era o menor dos meus problemas.
Chegara a hora de dormir, mas algo me mantinha acordado. Talvez fosse o medo dos gritos de pavor que conturbavam minha cabeça, ou talvez até o medo de mim mesmo. O medo de dormir e não poder mais acordar daquele sono profundo. O drama em que eu vivia - quem sabe até um pouco melodramático demais - mesmo que pintado com um degradê das mais suaves cores possíveis, não indicaria um final feliz.
Talvez esse não fosse o meu destino. Talvez eu devesse viver na esperança de um falso amor que me trouxesse felicidade.
Talvez eu devesse fugir pela janela de madeira com sinais de um velho verniz.